Fig. 1: Apresentação da orla meso-cenozóica ocidental segundo o mapa 1:500.000. O mapa está "deitado" para permitir uma melhor vizualização do conjunto: Para a legenda consultar o site. As formações violeta correspondem à transição triássico-jurássico (grés de Silves na periferia e margas da Dagorda no centro da bacia)
https://geoportal.lneg.pt/mapa/#
A Orla meso-cenozóica ocidental
Trata-se de uma área com características muito especiais sobre o ponto de vista da geologia.
Foi uma bacia de sedimentação posterior à formação da Pangea e correlativa da abertura do oceano Atlântico.
Vamos, por isso, encontrar formações post-hercínicas. Estas começam com a transição entre o Triássico e o Jurássico (Grés de Silves e Margas da Dagorda) e vão até ao Quaternário recente.
A partir do Jurássico superior esta bacia começa a sofrer impulsos tectónicos compressivos que se traduzem no basculamento e em dobramentos pouco acentuados, que muitas vezes, traduzem a movimentação tectónica do substrato hercínico.
Os movimentos tectónicos e as variações do nível do mar incidindo numa bacia alongada com a direcção NNE-SSW vão provocar variações de fácies que resultam numa notável variedade litológica, criando alguns relevos estruturais que acentuam o papel da disposição das rochas nas paisagens.
O principal encanto do litoral ocidental é, justamente, a diversidade litológica que configura paisagens variadas, inconfundíveis e cheias de movimento e de cor.
Neste mapa, o violeta representa o início da deposição post-hercínica. Esta tem dois fácies dominantes: o grés de Silves, na periferia da bacia correspondente a uma formação detrítica resultante da erosão na cadeia das montanhas hercínicas sob um clima árido e as margas da Dagorda, que correspondem ao equivalente do grés de Silves, no centro da bacia.
As margas da Dagorda têm uma grande importância neste contexto porque condicionam a existência de acidentes diapíricos no centro da bacia. Estas margas ao sofrerem a movimentação tectónica compressiva do final do Jurássico vão perfurar as rochas suprajacentes, que muitas vezes, correspondem a calcários resistentes, com bancadas espessas, do Jurássico inferior, médio e superior.
A plasticidade destas margas, muitas vezes associadas a sal-gema, quando sobre elas actua um impulso tectónico, conjugado com o peso das camadas suprajacentes pode provocar uma movimentação diferencial (halocinese, "movimento do sal") cortando as camadas pre-existentes e podendo aflorar próximo da superfície. É isso que constitui os acidentes diapíricos.
O contraste entre as margas e os calcários, que contactam através de falhas compressivas vai originar depressões com fundo plano e vertentes abruptas que são um leit motiv das paisagens desta região. O papel da litologia nestes acidentes geomorfológicos tem sido discutido e A. Ribeiro acentua a existência de cavalgamentos dos calcários sobre as formações pliocénicas do fundo das depressões, o que leva a considerar a importância da tectónica recente (neotectónica) na criação destes relevos. O mais importante e mais extenso é o diapiro das Caldas da Rainha.
Como se trata de acidentes profundos, estes podem permitir o afloramento de rochas ígneas de profundidade intermédia (diabases). Esses afloramentos constituem relevos que interrompem a regularidade das depressões diapíricas, muitas vezes chamadas de “vales tifónicos”.
Observando o mapa na posição de “deitado”, com o Norte para a esquerda, constatamos a forma em crescente da depressão a oeste do maciço hespérico. Essa depressão engloba a orla ocidental e a parte ocidental da Bacia do Baixo Tejo (terrenos terciários e quaternários, isto é: tons de amarelo e de cinzento). Ainda na orla ocidental é possível encontrar uma área em forma de til (~) onde afloram sobretudo as formações pintadas de azul (Jurássico).
Essa área surge muitas vezes limitada por falhas, o que mostra que se trata de uma área relativamente soerguida. E é por isso que aí afloram os sedimentos mais antigos.
Pelo contrário, no setor a Oeste de Coimbra, um outro crescente, mais pequeno, que toca no primeiro pela extremidade Norte, apresenta essencialmente uma gradação em que, à base do mesozóico (triássico-jurássico) se segue o cretácico coberto por formações cenozóicas. Neste sector predominam formações relativamente recentes, com um grande predomínio de Holocénico, apenas cortadas por raros afloramentos de setores jurássicos/cretácicos, como o planalto de Cantanhede e a Serra da boa Viagem.
É muito curioso verificar uma certa regularidade nesta distribuição: tudo se passa como se o soco hercínico estivesse segmentado através de falhas profundas que condicionam as linhas gerais da cobertura meso-cenozóica, definindo áreas predominantemente levantadas/abaixadas.
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A Orla meso-cenozóica ocidental
Trata-se de uma área com características muito especiais sobre o ponto de vista da geologia.
Foi uma bacia de sedimentação posterior à formação da Pangea e correlativa da abertura do oceano Atlântico.
Vamos, por isso, encontrar formações post-hercínicas. Estas começam com a transição entre o Triássico e o Jurássico (Grés de Silves e Margas da Dagorda) e vão até ao Quaternário recente.
A partir do Jurássico superior esta bacia começa a sofrer impulsos tectónicos compressivos que se traduzem no basculamento e em dobramentos pouco acentuados, que muitas vezes, traduzem a movimentação tectónica do substrato hercínico.
Os movimentos tectónicos e as variações do nível do mar incidindo numa bacia alongada com a direcção NNE-SSW vão provocar variações de fácies que resultam numa notável variedade litológica, criando alguns relevos estruturais que acentuam o papel da disposição das rochas nas paisagens.
O principal encanto do litoral ocidental é, justamente, a diversidade litológica que configura paisagens variadas, inconfundíveis e cheias de movimento e de cor.
Neste mapa, o violeta representa o início da deposição post-hercínica. Esta tem dois fácies dominantes: o grés de Silves, na periferia da bacia correspondente a uma formação detrítica resultante da erosão na cadeia das montanhas hercínicas sob um clima árido e as margas da Dagorda, que correspondem ao equivalente do grés de Silves, no centro da bacia.
As margas da Dagorda têm uma grande importância neste contexto porque condicionam a existência de acidentes diapíricos no centro da bacia. Estas margas ao sofrerem a movimentação tectónica compressiva do final do Jurássico vão perfurar as rochas suprajacentes, que muitas vezes, correspondem a calcários resistentes, com bancadas espessas, do Jurássico inferior, médio e superior.
A plasticidade destas margas, muitas vezes associadas a sal-gema, quando sobre elas actua um impulso tectónico, conjugado com o peso das camadas suprajacentes pode provocar uma movimentação diferencial (halocinese, "movimento do sal") cortando as camadas pre-existentes e podendo aflorar próximo da superfície. É isso que constitui os acidentes diapíricos.
O contraste entre as margas e os calcários, que contactam através de falhas compressivas vai originar depressões com fundo plano e vertentes abruptas que são um leit motiv das paisagens desta região. O papel da litologia nestes acidentes geomorfológicos tem sido discutido e A. Ribeiro acentua a existência de cavalgamentos dos calcários sobre as formações pliocénicas do fundo das depressões, o que leva a considerar a importância da tectónica recente (neotectónica) na criação destes relevos. O mais importante e mais extenso é o diapiro das Caldas da Rainha.
Como se trata de acidentes profundos, estes podem permitir o afloramento de rochas ígneas de profundidade intermédia (diabases). Esses afloramentos constituem relevos que interrompem a regularidade das depressões diapíricas, muitas vezes chamadas de “vales tifónicos”.
Observando o mapa na posição de “deitado”, com o Norte para a esquerda, constatamos a forma em crescente da depressão a oeste do maciço hespérico. Essa depressão engloba a orla ocidental e a parte ocidental da Bacia do Baixo Tejo (terrenos terciários e quaternários, isto é: tons de amarelo e de cinzento). Ainda na orla ocidental é possível encontrar uma área em forma de til (~) onde afloram sobretudo as formações pintadas de azul (Jurássico).
Essa área surge muitas vezes limitada por falhas, o que mostra que se trata de uma área relativamente soerguida. E é por isso que aí afloram os sedimentos mais antigos.
Pelo contrário, no setor a Oeste de Coimbra, um outro crescente, mais pequeno, que toca no primeiro pela extremidade Norte, apresenta essencialmente uma gradação em que, à base do mesozóico (triássico-jurássico) se segue o cretácico coberto por formações cenozóicas. Neste sector predominam formações relativamente recentes, com um grande predomínio de Holocénico, apenas cortadas por raros afloramentos de setores jurássicos/cretácicos, como o planalto de Cantanhede e a Serra da boa Viagem.
É muito curioso verificar uma certa regularidade nesta distribuição: tudo se passa como se o soco hercínico estivesse segmentado através de falhas profundas que condicionam as linhas gerais da cobertura meso-cenozóica, definindo áreas predominantemente levantadas/abaixadas.
Roteiro Leiria-S. Pedro de Moel-Paredes de Vitória
Vale a pena começar por uma visão de conjunto da área à volta de Leiria. O respectivo castelo é um bom ponto de observação, porque se situa numa elevação com um significado geológico relevante. Trata-se de um afloramento de diabase, uma rocha ígnea intruída ao longo das fracturas profundas que condicionam a subida das margas da Dagorda e a ocorrência de movimentos diapíricos. O diapiro de Leiria parece ser o aspecto mais relevante da área cartografada. Desenvolve-se de NE a SW. ao longo de falhas que fazem contactar as margas da Dagorda e as formações cretácicas que as rodeiam. Os afloramentos de diabase correspondem a oequenas manchas de cor vermelha escuro, que afloram no meio das margas (de cor lilás) e que correspondem a relevos salientes na paisagem, como é o caso daquele em que se implanta o castelo.
Fig. 4: Parte das folhas da carta geológica 1:50.000, abrangendo Leiria, a Marinha Grande, S. Pedro de Moel e o Vale Furado.
Imagem retirada de https://geoportal.lneg.pt/mapa/#
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Fig.5: Imagem do relevo onde assenta o Castelo de Leira
Autor: Sergio Claro
Direitos de autor: www.agency.com.pt
A posição sobranceira deste castelo (110m na base do castelo, contra cerca de 26 m da base, cerca de 84m de comando) permite uma observação privilegiada sobre as áreas envolventes.
Olhando para Sul é possível ver um elemento claramente soerguido que corresponde à parte norte do Maciço Calcário Estremenho.
Autor: Sergio Claro
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A posição sobranceira deste castelo (110m na base do castelo, contra cerca de 26 m da base, cerca de 84m de comando) permite uma observação privilegiada sobre as áreas envolventes.
Olhando para Sul é possível ver um elemento claramente soerguido que corresponde à parte norte do Maciço Calcário Estremenho.
Fig. 6: Vista do Maciço calcário Estremenho, para Sul, a partir do castelo de Leiria
O contraste entre as superfícies relativamente aplanadas que o rodeiam e o maciço calcário mostra que se trata de um bloco levantado, soerguido por falhas que se localizam em quase todo o seu redor.
O contraste entre as superfícies relativamente aplanadas que o rodeiam e o maciço calcário mostra que se trata de um bloco levantado, soerguido por falhas que se localizam em quase todo o seu redor.
S. Pedro de Moel é uma povoação encantadora. Muitas das suas casas têm um estilo especial, com bonitas varandas de madeira trabalhada. Uma das construções mais bonitas é a casa museu Afonso Lopes Vieira, situada sobre a arriba, onde funciona uma colónia balnear infantil.
Fig. 7: Casa Museu Afonso Lopes Vieira, com a sua pequena capela (à direita, sobre a arriba). Logo atrás, uma das casas típicas de S. Pedro de Moel muito bem conservada.
S. FFig. 8: Pedro de Moel: camadas de calcários margosos do Jurássico inferior, inclinando cerca de 70° para Oeste.
Fig. 9: Afloramentos de gesso na praia das Pedras Negras
Esta forte inclinação, rara no contexto da Orla ocidental, onde as movimentações tectónicas foram relativamente pouco intensas, sugere a existência de um fenómeno local. Efectivamente, trata-se de um diapiro profundo que faz empinar as camadas do Jurássico inferior na região de São Pedro de Moel (ver mapa com a geologia detalhada da área de S. Pedro de Moel, fig. 10).
Na "Praia das Pedras Negras", sob estes calcários empinados da praia de S. Pedro de Moel, afloram gessos de cor escura, da transição Triássico-Jurássico (J1ab), equivalentes às margens da Dagorda.
Um pouco mais para Sul a inclinação das camadas torna-se muito mais baixa (cerca de 30º).
As camadas estão mais deformadas a norte de São Pedro, porque aí estará mais próximo o núcleo do diapiro. É por isso que aqui se encontram os gessos da fig. 9.
Neste caso não existe a morfologia típica de "vale tifónico" que vamos encontrar na área mais a sul, das Caldas da Rainha. A morfologia actual decorre, sobretudo, da cobertura de dunas que serve de substrato ao "pinhal de Leiria".
Na "Praia das Pedras Negras", sob estes calcários empinados da praia de S. Pedro de Moel, afloram gessos de cor escura, da transição Triássico-Jurássico (J1ab), equivalentes às margens da Dagorda.
Um pouco mais para Sul a inclinação das camadas torna-se muito mais baixa (cerca de 30º).
As camadas estão mais deformadas a norte de São Pedro, porque aí estará mais próximo o núcleo do diapiro. É por isso que aqui se encontram os gessos da fig. 9.
Neste caso não existe a morfologia típica de "vale tifónico" que vamos encontrar na área mais a sul, das Caldas da Rainha. A morfologia actual decorre, sobretudo, da cobertura de dunas que serve de substrato ao "pinhal de Leiria".
Fig. 10: Mapa geológico detalhado da região de S. Pedro de Moel (imagem retirada de https://geoportal.lneg.pt/mapa/#)
Ao longo da ribeira de S. Pedro encontram-se rochas da base do Jurássico (J1). Isto significa que estas rochas, relativamente brandas, foram atingidas pela erosão, aquando da instalação da ribeira e, por isso, afloram.
Na parte norte do mapa notar o afloramento de gesso das Pedras Negras (Ges). Aparecendo sob a cobertura de dunas encontram-se rochas pintadas de vermelho: são as diabases que geralmente acompanham os acidentes diapíricos, como já tínhamos visto no castelo de Leiria.
Em S. Pedro de Moel as camadas do Jurássico inferior têm um orientação subparalela à linha de costa e são subverticais. A sul de São Pedro de Moel a orientação mantém-se mas os pendores tornam-se mais baixos. Isto significa que estamos a afastar-nos do núcleo do diapiro de São Pedro Moel e que é este acidente que provoca o "arrepio" das camadas visível na costa a Norte de S. Pedro.
Um dos casos em que isso é evidente é a praia da Água de Madeiros. Nesta foto é bem visível o pendor das camadas margosas do Jurássico, que são sobrepostas por materiais detríticos do Pliocénico.
Ao longo das fracturas desenvolvidas sobre as camadas, a rocha, no geral rica em matéria orgânica, vai-se oxidando e apresenta uma côr mais clara, originando um bonito padrão que sugere a pele de um crocodilo gigante...
Ao longo da ribeira de S. Pedro encontram-se rochas da base do Jurássico (J1). Isto significa que estas rochas, relativamente brandas, foram atingidas pela erosão, aquando da instalação da ribeira e, por isso, afloram.
Na parte norte do mapa notar o afloramento de gesso das Pedras Negras (Ges). Aparecendo sob a cobertura de dunas encontram-se rochas pintadas de vermelho: são as diabases que geralmente acompanham os acidentes diapíricos, como já tínhamos visto no castelo de Leiria.
Em S. Pedro de Moel as camadas do Jurássico inferior têm um orientação subparalela à linha de costa e são subverticais. A sul de São Pedro de Moel a orientação mantém-se mas os pendores tornam-se mais baixos. Isto significa que estamos a afastar-nos do núcleo do diapiro de São Pedro Moel e que é este acidente que provoca o "arrepio" das camadas visível na costa a Norte de S. Pedro.
Um dos casos em que isso é evidente é a praia da Água de Madeiros. Nesta foto é bem visível o pendor das camadas margosas do Jurássico, que são sobrepostas por materiais detríticos do Pliocénico.
Ao longo das fracturas desenvolvidas sobre as camadas, a rocha, no geral rica em matéria orgânica, vai-se oxidando e apresenta uma côr mais clara, originando um bonito padrão que sugere a pele de um crocodilo gigante...
Fig. 11: Estratificação dos calcários margosos do Jurássico inferior na praia da Água de Madeiros
Fig. 12: Água de Madeiros: pendor das camadas e aspecto da respectiva superfície
A sul da Água de Madeiros, as arribas são talhadas em materiais argilosos, de cor escura. Daí decorre uma menor resistência à erosão e a situação de risco para os casas e apartamentos construídos imprudentemente no topo da arriba. Essa é a situação típica da Praia da Pedra do Ouro, que se pode ver muito bem na foto à esquerda.
A sul começa a ser visível a excelente praia da Polvoeira e o pequeno promontório (Castelo Leão) que a separa da praia de Paredes da Vitória.
A sul começa a ser visível a excelente praia da Polvoeira e o pequeno promontório (Castelo Leão) que a separa da praia de Paredes da Vitória.
Fig. 13: Pedra do Ouro: rochas argilosas do Jurássico inferior ricas em matéria orgânica e facilmente erodíveis
Figura 14: Castelo Leão: o rochedo que separa a praia da Polvoeira da Praia de Paredes de Vitória.
Paredes de Vitória foi um porto durante a idade média. A partir de 1500, tempestades e a invasão de areias arruinou esse porto e fez partir a maior parte da população.
Curiosamente, a área de Paredes corresponde a um ponto de mudança relativamente à geologia. A existência da base do Jurássico parece apontar para um acidente diapírico quase completamente obliterado pela cobertura dunar.
A partir deste ponto a estrutura geológica muda bastante e passamos a ter formações cretácicas e cenozóicas, em vez do jurássico inferior patente mais a Norte.
A mina de Azeche constituiu a primeira exploração de formações betuminosas em Portugal. Aberta em meados do século XIX, foi fechada e reaberta várias vezes, devido à sua falta de rentabilidade. Os vestígios da presença de hidrocarbonetos são bem evidentes na praia.
É perto dessa transição que nos aparece uma das paisagens mais espectaculares desta faixa litoral. Trata-se do Vale Furado, onde belíssimos ravinamentos desenvolvidos em rochas detríticas do Cenozóico criam uma paisagem inesquecível.
Curiosamente, a área de Paredes corresponde a um ponto de mudança relativamente à geologia. A existência da base do Jurássico parece apontar para um acidente diapírico quase completamente obliterado pela cobertura dunar.
A partir deste ponto a estrutura geológica muda bastante e passamos a ter formações cretácicas e cenozóicas, em vez do jurássico inferior patente mais a Norte.
A mina de Azeche constituiu a primeira exploração de formações betuminosas em Portugal. Aberta em meados do século XIX, foi fechada e reaberta várias vezes, devido à sua falta de rentabilidade. Os vestígios da presença de hidrocarbonetos são bem evidentes na praia.
É perto dessa transição que nos aparece uma das paisagens mais espectaculares desta faixa litoral. Trata-se do Vale Furado, onde belíssimos ravinamentos desenvolvidos em rochas detríticas do Cenozóico criam uma paisagem inesquecível.
Fig. 15: Detalhe do mapa geológico entre a Pedra do Ouro e o Vale Furado (imagem retirada de https://geoportal.lneg.pt/mapa/#)
Fig. 16: Hidrocarbonetos presentes nas arribas da área da mina de Azeche.
Fig. 17: Ravinamentos nas rochas cenozóicas do Vale Furado
Litoral Nazaré-S. Martinho do Porto
O litoral desta área corresponde ao sector limitado, a Norte pela falha da Nazaré, que levanta os sectores situados a Sul. Por isso, os afloramentos situados a norte da Nazaré correspondem a uma bacia deprimida em relação ao sector situado a sul deste alinhamento. Assim, vamos encontrar formações relativamente mais antigas neste bloco, a sul da falha da Nazaré. É por isso que é neste sector que nos aparece uma maior quantidade de afloramentos do Jurássico, nomeadamente o maciço calcário Estremenho. Também é aqui que os acidentes diapíricos têm uma maior desenvolvimento e uma grande influência na fisionomia do litoral. É o caso do vale tifónico das Caldas da Rainha que afecta de forma directa quase todo o litoral compreendido entre Nazaré e Peniche (figura 18).
A Nazaré é um bom ponto de partida para este trajecto. Com efeito, do promontório da Nazaré pode ver-se quase toda esta costa, inclusive as ilhas das Berlengas quando o céu está límpido.
Trata-se de uma costa com a direcção Nordeste-Sudoeste e até à latitude da Lagoa de Óbidos a sua margem é talhada nas rochas que fecham, a oeste o diapiro nas Caldas da Rainha. Trata-se de rochas jurássicas com forte pendor para oeste soerguidas pelo cavalgamento sobre as margas que correspondem à depressão de fundo plano (vale tifónico), escavada nas rochas brandas do centro do diapiro.
O Sítio da Nazaré é também um ponto onde a geologia se casa com a geomorfologia para criar uma paisagem espectacular.
Trata-se de uma costa com a direcção Nordeste-Sudoeste e até à latitude da Lagoa de Óbidos a sua margem é talhada nas rochas que fecham, a oeste o diapiro nas Caldas da Rainha. Trata-se de rochas jurássicas com forte pendor para oeste soerguidas pelo cavalgamento sobre as margas que correspondem à depressão de fundo plano (vale tifónico), escavada nas rochas brandas do centro do diapiro.
O Sítio da Nazaré é também um ponto onde a geologia se casa com a geomorfologia para criar uma paisagem espectacular.
Fig. 18: O mapa geológico entre a Nazaré e Peniche e o "vale tifónico" das Caldas da Rainha (imagem retirada de https://geoportal.lneg.pt/mapa/#).
O promontório da Nazaré corresponde a um afloramento de calcários do Cretácico médio, o chamado Turoniano. Esse afloramento está coberto por basaltos e por conglomerados eocénicos, contendo já calhaus de basalto. É por isso, um local onde é fácil perceber as relações estratigráficas na transição entre o Mesozóico e o Cenozóico. Os calcários do Turoniano são mais resistentes do que o Cretácico inferior sobre o qual assenta. Por isso existe uma cornija onde se construiu a capela de Nossa Senhora de Nazaré. Esta espectacular cornija com mais de 70m de comando sobre a praia, permite uma visão magnífica sobre a costa que se situa para Sul.
Fig. 19: Vista para leste, a partir do Sítio da Nazaré. Em primeiro plano a cornija de calcários do Cretácico médio onde assenta a capela da Sra da Nazaré. Em baixo o mosaico de casas da Nazaré, fechado, a leste, pela fachada ocidental do vale tifónico. O monte de S. Bartolomeu corresponde a um afloramento de rochas básicas, que ocorrem frequentemente nos acidentes diapíricos.
Fig. 20: Carta hipsobatimétrica do canhão da Nazaré (Wikipédia).
Ao largo da Nazaré desenvolve-se o canhão submarino mais imponente da Europa. É uma espécie de grande rasgão na plataforma continental de Portugal, A ondulação, ao circular nas águas profundas do canhão, mantém boa parte da sua altura e vai interferir com a ondulação da plataforma criando ondas gigantes. Garret Mac Namara teve um papel fundamental na criação desse grande motivo de atracção turística para a Nazaré. A partir de 2011 a visibilidade deste local multiplicou-se e hoje, no verão, há uma espécie de peregrinação para ver as ondas gigantes, que obviamente só aparecem no inverno, em condições cuidadosamente estudadas e que atraem surfistas de todo o planeta.
A costa a sul da Nazaré é ainda relativamente selvagem e pouco ocupada. Não deixa, mesmo assim, de ter interesse. A 11 km da Nazaré, seguindo um estradão, é possível encontrar uma capela um tanto enigmática, para alguns de origem visigótica, para outros, mais recentemente, com influências moçárabes (séc. X).
Ao largo da Nazaré desenvolve-se o canhão submarino mais imponente da Europa. É uma espécie de grande rasgão na plataforma continental de Portugal, A ondulação, ao circular nas águas profundas do canhão, mantém boa parte da sua altura e vai interferir com a ondulação da plataforma criando ondas gigantes. Garret Mac Namara teve um papel fundamental na criação desse grande motivo de atracção turística para a Nazaré. A partir de 2011 a visibilidade deste local multiplicou-se e hoje, no verão, há uma espécie de peregrinação para ver as ondas gigantes, que obviamente só aparecem no inverno, em condições cuidadosamente estudadas e que atraem surfistas de todo o planeta.
A costa a sul da Nazaré é ainda relativamente selvagem e pouco ocupada. Não deixa, mesmo assim, de ter interesse. A 11 km da Nazaré, seguindo um estradão, é possível encontrar uma capela um tanto enigmática, para alguns de origem visigótica, para outros, mais recentemente, com influências moçárabes (séc. X).
Fig. 21: Ruínas da capela de S. Gião e respectivo aqueduto.
Curiosamente, entre a Nazaré e a lagoa de Óbidos encontramos uma extensa depressão, talhada nas margas (vale tifónico) fechada, a oeste, por um conjunto de relevos que correspondem ao sector levantado que cavalga as margas (figs 2 e 3) e que formam arribas por vezes alterosas (Praia da Gralha, fig. 24).
No topo da vertente, que coincide com a escarpa ocidental do vale tifónico (Serra das Pescarias), aqui e ali pontuada por bonitos moinhos de vento, encontramos a estrada para a extensa praia do Salgado. Esta praia é a prova de que o nosso litoral ainda guarda muitos locais preciosos para explorar de modo sustentável...
Uma melhor análise do mapa, ampliado na fig. 23, permitiu-nos saber que, nesta área, há 2 jazidas de pegadas de dinossauros. Uma situa-se na base da arriba, na prainha do Salgado, Outra na chamada Serra dos Mangues, a 105m de altitude. Para ver a localização exacta é necessário ampliar o mapa em questão. Estive muito perto desse local em Agosto de 2023... ah se eu soubesse, essas pegada não me tinhm escapado!
Quer isto dizer que é sempre possível descobrir coisas novas desde que se possuam alguns instrumentos de análise, nomeadamente mapas, tempo e a curiosidade necessária para querer descobrir coisas novas.
No topo da vertente, que coincide com a escarpa ocidental do vale tifónico (Serra das Pescarias), aqui e ali pontuada por bonitos moinhos de vento, encontramos a estrada para a extensa praia do Salgado. Esta praia é a prova de que o nosso litoral ainda guarda muitos locais preciosos para explorar de modo sustentável...
Uma melhor análise do mapa, ampliado na fig. 23, permitiu-nos saber que, nesta área, há 2 jazidas de pegadas de dinossauros. Uma situa-se na base da arriba, na prainha do Salgado, Outra na chamada Serra dos Mangues, a 105m de altitude. Para ver a localização exacta é necessário ampliar o mapa em questão. Estive muito perto desse local em Agosto de 2023... ah se eu soubesse, essas pegada não me tinhm escapado!
Quer isto dizer que é sempre possível descobrir coisas novas desde que se possuam alguns instrumentos de análise, nomeadamente mapas, tempo e a curiosidade necessária para querer descobrir coisas novas.
Fig. 22: Topografia do litoral Nazaré-S. Martinho do Porto. Extraído de http://map.valentim.org/#map=12/39.5886/-9.1535.
Fig. 23: Pormenor da localização dos 2 afloramentos de pegadas de dinossauros.
É necessário percorrer o conjunto do "vale tifónico" para se perceber melhor o carácter escarpado destas arribas que olham para o lado do mar e do seu contraste com a topografia das margas, dentro da depressão.
Fig. 23: Pormenor da localização dos 2 afloramentos de pegadas de dinossauros.
É necessário percorrer o conjunto do "vale tifónico" para se perceber melhor o carácter escarpado destas arribas que olham para o lado do mar e do seu contraste com a topografia das margas, dentro da depressão.
A Praia da Gralha é uma espécie de Praia do Salgado em ponto mais pequeno. Torna-se ainda mais bonita porque as arribas são mais vigorosas e as cores avermelhadas das margas do jurássico superior fazem um bonito contraste com o azul profundo do mar.
Fig. 24: A praia da Gralha Notar a estratificação das camadas margosas do Jurássico superior.
Fig. 25: As fotografias de avião são as únicas que conseguem reproduzir toda a beleza deste acidente espectacular. Foto extraída de
https://asenhoradomonte.com/2016/10/01/conhece-a-concha-de-sao-martinho-do-porto/
A arriba que limita a Praia da Gralha mais não é do que a escarpa ocidental do vale tifónico. O que quer dizer que, para leste, se estende o vale tifónico, com fundo plano, coberto por sedimentos relativamente recentes (fig. 18). Sendo uma área deprimida foi invadida pelo mar por diversas vezes. A útima das quais aconteceu aquando da chamada transgressão flandriana, posterior à última glaciação (cerca de 5000 anos antes do presente). Formou-se então um extenso golfo. Com a descida do nível do mar posterir a essa transgressão, o golfo foi-se reduzindo e acabou por se formar um magnífico acidente litoral com a forma perfeita de uma concha: S. Martinho do Porto.
É necessário percorrer o conjunto da bacia para se perceber melhor o carácter escarpado das arribas que olham para o lado do mar e do seu contraste com as ondulações suaves vigentes dentro do vale tifónico. É difícil conseguir uma foto que apanhe toda a concha de S. Martinho, não ser através de drones ou aviões. A melhor possibilidade que conhecemos é visitar o miradouro de Salir do Porto.
Justamente, em Salir do Porto há vários pontos de interesse além desse miradouro: a capela reconstruída de Santa Ana, olhando para a abertura da baía e a duna que é um ponto turístico muito utilizado pelos veraneantes. Trata-se de uma duna com 50m de altura e que, segundo documentos online, tem um núcleo que corresponde a uma duna fóssil, com areias consolidadas por um cimento ferruginoso.
Fig. 26: A abertura da baía de S. Martinho e a Capela de Santa Ana
Fig. 27: A duna de Salir do Porto: junto à abertura da baía
Relativamente abrigada do vento, na actualidade, a duna de Salir culmina a cerca de 50m m e faz lembrar a célebre duna de Pyla nas landes da Gasconha, perto de Arcachon.
Relativamente abrigada do vento, na actualidade, a duna de Salir culmina a cerca de 50m m e faz lembrar a célebre duna de Pyla nas landes da Gasconha, perto de Arcachon.
Fig. 28: A abertura da baía de S. Martinho do Porto. A posição do farolim à esquerda e da capela de Sta Ana, à direita.